Parlamento escocês precisa manter-se firme e apoiar casamento igualitário

A consulta feita pelo governo escocês sobre o casamento igualitário foi encerrada no fim de semana, e nos últimos dias antes do final do prazo houve um frenesi de atividade de lobbying de pessoas de ambos os lados da discussão.

A Scotland for Marriage (Escócia em favor do Casamento), que tem o apoio de várias igrejas e grupos religiosos, incluindo a Igreja Católica, lançou uma campanha contra qualquer mudança na lei. Aqueles que defendem mudanças na lei também deixaram claro o que pensam. Uma coalizão de organizações "do arco-íris" entregou 18 mil respostas em favor da introdução do direito de casamento para os casais de pessoas do mesmo sexo.

Sob muitos aspectos, a disputa só está começando para valer agora. Com certeza o debate vem ganhando intensidade, com manifestantes da Sociedade Humanista, em favor de mudanças na lei, e adversários religiosos das propostas tendo sido separados por fileiras de policiais numa manifestação promovida diante do Parlamento escocês na semana passada. Logo, seria compreensível se o governo do SNP (Partido Nacional Escocês) estivesse começando a sentir-se pressionado, especialmente porque o campo do Escócia em favor do Casamento vem adotando o argumento da perda de votos.

Uma das figuras líderes do Escócia em favor do Casamento, o ex-líder do SNP Gordon Wilson, vem lançando avisos tenebrosos de que a questão do casamento gay pode prejudicar a meta da independência que é tão cara ao SNP. Falando no programa "Newsnight Scotland", da BBC, ele afirmou que o SNP está "ocupado distanciando eleitores" e avisou a liderança do partido: "Se vocês quiserem a independência, mudem de rumo".

Isso é bobagem absoluta, é claro. Aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo não vai prejudicar a causa da independência, não mais do que a revogação da seção 28 custou à coalizão trabalhista/democrata liberal escocesa as eleições parlamentares de 2003 (isso não aconteceu: a coalizão venceu).

Os líderes do SNP não precisam de aulas de história política escocesa. Eles devem lembrar-se bem demais da amargura e do rancor do debate que aconteceu em 2000 antes da revogação da notória seção 28 (ou, mais precisamente, seção 2A), que proibia a "promoção" da homossexualidade nas escolas.

Eles devem se lembrar da campanha Conservem a Cláusula e do referendo particular promovido por Brian Souter, do Grupo Stagecoach, em que mais de 1 milhão de escoceses votaram em favor da manutenção da seção 28. Devem recordar-se do debate parlamentar escocês que terminou com uma votação em favor da revogação. Devem também se recordar que, após essa tempestade política perfeita de proporções épicas, as águas se fecharam sobre a campanha Conservem a Cláusula, praticamente sem deixar consequências políticas.

Logo, a lição da história é simples. Se o governo escocês mantiver a calma e conservar-se em seu rumo, a oposição ao casamento igualitário não vai ameaçar a busca da independência escocesa travada pelo SNP. Ao invés disso, a oposição vai se dissipar, como foi o caso com a seção 28. Isso vai acontecer em parte porque, apesar do que afirmam, as pessoas que se opõem ao casamento igualitário não representam a maioria dos escoceses. Vale lembrar que a Pesquisa de Atitudes Sociais dos Escoceses publicada em 2011 mostrou que o apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo aumentou e agora está em 61%, contra 40% na pesquisa de 2002.

No final do verão eu fui à comemoração de 25º aniversário de união de uma amiga. Um exército familiar tinha viajado desde todas as partes do país para ajudar nos preparativos. A festa aconteceu num paiol das redondezas, enfeitado com decorações caseiras. Havia montes de feno para nos sentarmos; crianças brincavam no castelo pula-pula. O casal feliz sorria e abraçava sua sobrinha-neta. Foi como algo de um filme de Hollywood dos anos 1950.

Só que o casal que comemorava seu aniversário de união era formado por duas mulheres. Não sei se minhas amigas, que se tornaram parceiras civis cinco anos atrás, têm algum desejo de se casar. Sei que é difícil pensar em um casal que demonstra melhor que elas os méritos de uma relação amorosa de longo prazo. Francamente, acho ridícula e lamentável a instituição de que elas duas "maculariam" a instituição do casamento.

O governo escocês já deixou claro que tende a favorecer a visão de que o casamento igualitário deve ser autorizado. Trata-se de uma oportunidade para a Escócia liderar, para mostrar que é uma nação moderna, inclusiva e esclarecida. Será um grande desperdício deixarmos de aproveitar essa oportunidade. É por isso que o SNP deve ter coragem e continuar firme em seu apoio ao casamento igualitário. 

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