THOMAS KAPLAN DO "NEW YORK TIMES", EM NOVA YORK
TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN - ADAPTAÇÃO DE HERNANNY QUEIROZ
Depois da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo no Estado de Nova York, no verão americano deste ano, LGBTs elevaram o governador Andrew M. Cuomo ao status de celebridade, derramando sobre ele gratidão, elogios e prêmios. Agora o estão recompensando com algo mais palpável: dinheiro para sua campanha.TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN - ADAPTAÇÃO DE HERNANNY QUEIROZ
Nesta sexta-feira Cuomo deve viajar a Los Angeles para o primeiro evento político de levantamento de fundos fora de seu Estado em seu governo, que já dura 11 meses. Será um evento sofisticado na residência de um casal gay, um de cujos integrantes é decorador da Casa Branca e o outro, executivo da HBO.
A festa terá também vários outros anfitriões que são celebridades de Hollywood, entre eles o diretor Rob Reiner, J.J. Abrams, co-criador de "Lost", Darren Star, criador de "Sex and the City", e a atriz Vanessa Williams.
A recepção em Los Angeles acontece depois de quatro eventos de levantamento de fundos em Nova York, nos últimos sete meses, que tiveram grande presença e contribuição de partidários do casamento igualitário.
Andrew Cuomo não precisa dos recursos neste momento: ele está com US$ 9,2 milhões em seus cofres de campanha, goza de alto índice de aprovação dos eleitores e só poderá se candidatar à reeleição em 2014.
Mas é mencionado com frequência como possível candidato presidencial em 2016, e criar uma base nacional de eleitores tem importância política potencial para o governador, um democrata ambicioso.
"Cuomo conseguiu levar um número enorme de pessoas a abrirem os bolsos", disse David B. Mixner, defensor de longa data dos direitos LGBT e amigo do ex-presidente Bill Clinton, para quem ajudou a conseguir o apoio de eleitores LGBTs. Ao orquestrar a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo em Nova York, acrescentou Mixner, Cuomo "se converteu em ator nacional com praticamente uma só lei. E isso não vai mudar."
Richard Socarides, que foi assessor sênior na Casa Branca de Clinton e hoje é presidente do grupo de defesa dos direitos LGBT, Equality Matters (A Igualdade é Importante), disse que, para americanas/os lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, Cuomo é "o único político nacional a ter status de herói".
"Historicamente, temos visto que os gays podem ser muito organizados, fornecendo voluntários e dinheiro a campanhas políticas. Neste momento, as pessoas estão muito animadas com Andrew Cuomo", disse Socarides. "Ele nos ajudou decisivamente, e tenho certeza que as pessoas estarão dispostas a fazer o mesmo por ele, da maneira como ele pedir."
Depois de receber donativos da comunidade LGBT, os quatro senadores estaduais republicanos que forneceram os votos necessários para aprovar a legislação foram fortemente criticados por adversários do casamento igualitário. Os adversários disseram que os republicanos traíram seus princípios em troca de uma promessa de contribuições de campanha.
Brian S. Brown, presidente da Organização Nacional para o Casamento, que se opõe ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, disse que não faz essa objeção ao levantamento de fundos feito por Cuomo, porque o governador tinha deixado sua posição clara. Mas Brown disse que é importante que os eleitores de Nova York saibam que Cuomo agora "está recebendo sua recompensa" e está levantando recursos "com base em sua agenda radical social".
A defesa feita por Cuomo do casamento igualitário foi tão assertiva que as táticas que ele usou foram questionadas legalmente: no mês passado um juiz estadual questionou o fato de Cuomo ter "torcido o braço" do Legislativo para pressioná-lo sobre a questão.
Sheila Krumholz, diretora executiva do Centro de Política Responsiva, que rastreia o dinheiro na política, disse que o fato de Cuomo ter levantado dinheiro junto à comunidade LGBT não é surpresa.
"A quem mais alguém como Cuomo poderia recorrer?" disse ela. "Enquanto houver dinheiro de particulares na política, essa é a barganha que fechamos. Mesmo que seja questão apenas de donativos pequenos, os políticos ainda vão tentar sensibilizar as comunidades que têm mais chances de apoiar as posições deles."
Ela falou que as contribuições ligadas a questões ideológicas são menos "insidiosas" que as relacionadas a questões regulamentares ou financeiras, em parte porque as posições dos políticos são menos vulneráveis a serem influenciadas pelo dinheiro.
"Isso é deselegante?" ela indagou. "Apenas na medida em que levantar fundos de indivíduos e interesses privados de qualquer tipo é deselegante. Mas esse é o sistema."
O trabalho recente de levantamento de fundos de Cuomo ligado ao casamento igualitário começou em abril, quando ele foi o beneficiário de um evento promovido no loft em Manhattan de Chris Hughes, um dos fundadores do Facebook, e de seu noivo, Sean Eldridge, assessor sênior da organização Freedom to Marry (Liberdade para Casar). O casal disse que pretendia casar-se em Nova York em junho.
"O governador conquistou um lugar na história, sendo alguém que vem liderando de modo notável nesta questão", falou Eldridge em entrevista telefônica. "Acho que a comunidade LBGT e a comunidade progressista mais ampla não vão se esquecer disso."
Em maio Cuomo recebeu uma contribuição de US$60 mil da organização Empire State Pride Agenda. Em junho ele convidou seus partidários, LGBTs ou heterossexuais, para um evento de levantamento de fundos no musical da Broadway "Priscilla Queen of the Desert", adaptação do filme de 1994 sobre três drag queens australianas numa viagem pelo interior da Austrália.
Dez dias após o evento na Broadway, o Senado estadual votou pela legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e Cuomo sancionou a lei. Foi quando as manifestações de apoio ao governador começaram para valer.
Na madrugada do dia seguinte o governador recebeu deputados e defensores dos direitos LGBT na Mansão Executiva, e vários de seus assessores foram com ativistas LGBTs a um bar de Albany para comemorar a vitória.
Dois dias depois, o governador foi para a Parada de Orgulho LGBT de Nova York com sua namorada, a apresentadora da Food Network, Sandra Lee. Cuomo pôs uma pequena bandeira de arco-íris no bolso de seu blazer e foi saudado com aplausos entusiasmados.
A revista, "The Advocate", espalhou sua imagem sorridente pela capa de sua edição de setembro, e a Pride Agenda lhe deu um troféu de liderança num evento de gala em Manhattan, em outubro.
A boa vontade não demorou a ser seguida por dinheiro.
Em agosto, Cuomo reforçou seu tesouro de campanha com uma "celebração estival da igualdade de casamento" em The Hamptons.
Em setembro, dois doadores destacados para causa LGBT --Jon Stryker, o bilionário herdeiro da empresa de produtos médicos Stryker, e Jonathan Lewis, cujo pai, Peter B. Lewis, é presidente da seguradora Progressive Insurance-- promoveram um evento de levantamento de fundos que foi anunciado como "noite íntima" com Cuomo. Os ingressos foram vendidos por US$12.500 por pessoa, e Cuomo recolheu cerca de US$400 mil.
O evento da última sexta, foi na casa de James Costos, executivo da HBO, e Michael S. Smith, o decorador de interiores a quem o presidente Barack Obama e sua mulher, Michelle, confiaram a decoração da parte residencial da Casa Branca. O casal já levantou mais de US$1 milhão para a reeleição do presidente e recebeu Michelle Obama em um evento de levantamento de fundos em sua residência em junho.
Chad H. Griffin, estrategista político ativo em questões ligadas a LGBTs, é um dos principais organizadores do evento, no qual se pede aos convidados que doem US$1.000 para coquetéis ou até US$12.500 pelo jantar.
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