[COLUNA DA ERICA CYRIACO] Meu País das Maravilhas


Às vezes me sinto meio Alice. Aliás, essa fábula sempre foi minha preferida. Talvez pela vasta imaginação e riqueza de detalhes em cada situação surreal que a protagonista passa. Ou talvez seja pela personalidade dela. Afinal, a história sugere um desejo de ruptura e de liberdade.

E, às vezes dá vontade de seguir o coelho branco e me jogar no país das maravilhas de Alice...

A trajetória da menina é um tanto interessante, e muita gente confessa não entender e achar descabida a história inteira. Mas eu prefiro enxergar através do literal e buscar analogias com o mundo onírico se transpondo ao mundo real. E isso me faz pensar.

Como quando Alice se embrenha no lugar desconhecido, destemidamente, mas fica em dúvida sobre qual caminho seguir. Depara-se com o Gato de Cheshire, com o qual tem um diálogo nada lógico. No entanto, vendo com outros olhos, pode-se entender o Gato como parte da própria Alice, a parte que questiona uma tomada de decisões, que tenta analisar as prováveis conseqüências das possíveis alternativas.

Se a intenção de Lewis Carroll foi causar uma reflexão no leitor ou simplesmente prestar uma homenagem à verdadeira Alice (uma criança, filha de um amigo do escritor, que inspirou a personagem), fica a dúvida. Mas o importante é que o texto é rico em metáforas, se você estiver disposto a percebê-las.

E muitas vezes me vejo diante de questionamentos da impetuosa Alice, em meio a tantas Rainhas de Copas que querem cortar-me a cabeça no cotidiano. A diferença é que sei que não vou acordar no final embaixo da árvore que adormeci. Sei que tudo não passou de um sonho. A diferença é que meu “País das Maravilhas” é a minha vida, com toda a confusão e anormalidade típica da vida de qualquer um.

‘ “O senhor poderia me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar para sair daqui?”
“Isso depende muito de para onde você quer ir”, respondeu o Gato.
“Não me importo muito para onde...” retrucou Alice.
“Então não importa o caminho que você escolha”, disse o Gato.
“... contanto que dê em algum lugar”, Alice completou’
Trecho de Alice no País das Maravilhas – Lewis Carroll

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