A escola já não cabe mais no armário


Projeto Diversidade Sexual na Escola oferece cursos de formação para professores e fomenta discussões sobre preconceito e inclusão de LGBTs.
Alexandre Bortolini Coordenador Projeto Diversidade Sexual na Escola (Foto: Divulgação)Alexandre Bortolini, coordenador do projeto
Diversidade Sexual na Escola (Foto: Divulgação)
Ser diferente é normal, proclamam as campanhas publicitárias. Mas não é fácil, todo mundo sabe. É por isso que o projeto Diversidade Sexual na Escola realiza desde 2006 atividades de formação e sensibilização junto a profissionais da rede pública e alunos da Educação Básica. O projeto é uma realização da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vinculado ao Programa Papo Cabeça, realizado em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secadi) do Ministério da Educação e a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH). Para Alexandre Bortolini, coordenador do projeto, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais não são mais invisíveis, porém, ainda sofrem com o preconceito, daí a importância de discutir o tema.

“O aluno colocou a escola em xeque. Não estamos mais nos anos 50 e 60, quando os casos eram abafados e os estudantes gays, expulsos. O professor tem que aprender a lidar com o jovem casal de alunos homossexuais que quer ter os mesmos direitos de demonstrar afeto que os heteros. Ou com os alunos travestis que não querem usar uniforme de menino. Como a instituição escolar não tem acúmulo de discussões a respeito, acaba sendo pega de surpresa. Os LGBTs ainda continuam sendo vítimas de violência, mas percebemos que existe uma postura mais combativa da parte deles, de luta pelo direito de serem respeitados”, explica.

O que começou como uma pequena oficina de quatro horas para educadores em 2006 transformou-se em curso de extensão de 40, 60 e 120 horas a partir de 2007. E o interesse dos professores é grande: em 2010 foram criadas oito turmas em seis municípios diferentes.

"O que percebemos nos relatos dos professores é um grande conflito. Eles reconhecem que carregam preconceitos machistas, mas, ao mesmo tempo, também sabem que precisam transformar suas práticas pedagógicas para poder abarcar a diversidade sexual. Não basta dizer que não é homofóbico, e sim aprender a como não ser. Muitas atitudes já estão tão arraigadas, como fazer filas para meninas e meninos e dizer que azul é de menino e rosa é de menina, que eles não sabem lidar com outras realidades”, diz o coordenador.

Em 2008, Alexandre Bortolini, em co-autoria com Luan Carpes Barros-Cassal, Majorie Marchi e Regina Bortolini, lançou o livro “Diversidade Sexual na Escola”, produzido a partir de relatos reais recolhidos durantes as oficinas. Todas as escolas da rede estadual do Rio de Janeiro receberam cópias do material. Ao todo já foram distribuídos mais de 13.000 exemplares, incluindo universidades, órgãos de gestão e organizações sociais. Para o coordenador, toda discussão séria é valida.

“Dizer que o kit homofobia estimula a homossexualidade dos jovens é um absurdo. Esse pensamento está na mesma linha de que descriminalização das drogas incentiva o consumo. Na verdade, toda proposta pedagógica que vai além do mundo heteronormativo incomoda. A homossexualidade é tolerada, se não for de encontro aos valores estabelecidos. Homossexual como vítima é aceitável. Agora, quando a homossexualidade começa a virar um valor, não pode, dá problema!", ressalta.

O coordenador e sua equipe estão terminando de produzir um novo material, voltado agora para a discussão da diversidade sexual em determinadas áreas curriculares, como educação infantil, ciências sociais, biologia e linguagens. “O objetivo é trabalhar os conteúdos para além da heteronormatividade vigente. As iniciativas, sejam através das oficinas e dos livros, estão sendo válidas, pois ajudam educadores e alunos a reconhecerem algumas atitudes discriminatórias. E reconhecer é um dos primeiros passos para mudar”, completa.

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