Escola recebe também jovens heterossexuais e abrirá núcleos em 2012.
Um espaço onde é possível ser o que se é, sem medo de sofrer preconceito. Assim é a Escola Jovem LGBT, em Campinas, São Paulo, a primeira do gênero no país, que oferece cursos para jovens LGBTs e para os heteros que quiserem chegar. O projeto, que já está no terceiro ano de realização, surgiu do desejo de dar voz e tirar dúvidas dos adolescentes lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, conta Deco Ribeiro, fundador da escola.“Na minha adolescência não tinha internet e as informações sobre homossexualidade eram sempre negativas e estereotipadas. Vivi ‘no armário’ até os 26 anos. Descobri na Internet muitos jovens que tinham medo de se assumir e sofriam preconceito, aí tive a ideia de criar o site E-Jovem, em 2001. Três anos depois, o site transformou-se em ONG, e em 2009 ganhamos uma verba dentro projeto Ponto de Cultura, uma parceria do Governo de São Paulo com o Ministério da Cultura. O E-Jovem foi o único projeto com temática LGBT. Tivemos então a oportunidade de abrir a escola”, conta Deco.
De acordo com o fundador, inicialmente a vizinhança reclamou da presença da escola no bairro, mas atualmente a convivência é pacífica. Muitos pais costumam levar os filhos à Jovem LGBT e preferem que eles estejam lá aprendendo algo, a que fiquem na rua. A escola oferece cursos de violão e teclado, criação de revistas, teatro, dança, espanhol e sociologia da homossexualidade. O curso de revista produz um fanzine com uma tiragem de 500 mil exemplares. As aulas são gratuitas e os alunos também concorrem a seis bolsas de R$ 100 para ajudar no deslocamento. As inscrições para 2012 começaram no dia 1 de dezembro e seguem até março. “A escola não é regular. Fazemos um chamado aberto para os professores interessados, e a orientação sexual deles não é requisito para trabalhar conosco, já tivemos professores gays e heteros”, conta Deco.
Cada turma tem dez alunos e, atualmente, a escola conta também com duas meninas e um menino heterossexuais. Winnie Fernanda Campos da Silva, 18 anos, é uma das meninas e conta que se identificou com a ideia da escola LGBT.
“Eu sou negra, então, sei o que é sofrer preconceito. Sempre tive muitos amigos gays e me sinto à vontade. Quando soube que a escola ia abrir pertinho da minha casa, fui conferir. Faço aula de dança lá há dois anos. Meus pais aprovaram a ideia. Vemos na mídia notícias ruins relacionadas a gays, que eles foram vítimas de violência, que passam doença... É muito bom participar de uma iniciativa positiva como a Escola Jovem LGBT”, ressalta a aluna.
Juana Pablo é travesti e conta que se sentiu mais confiante para lutar por seus direitos desde que entrou para a Escola Jovem LGBT, há três anos. “A escola abriu muitas portas para mim. Fiz curso de teatro e de balé, além de me tornar militante. Muita gente acha que travesti só faz programa, e isso não corresponde à realidade. Na verdade, temos dificuldade em conseguir trabalho por conta do preconceito”, conta Juana, que tem 21 anos e está no 2º ano do Ensino Médio.
Após três anos como projeto piloto, a Escola Jovem LGBT pretende alçar novos voos em 2012. “Vamos abrir três núcleos ano que vem, um no litoral de São Paulo, outro na capital e mais um em Piracicaba. Existe interesse de outras cidades em abrir uma escola como a nossa. Acho que o primeiro movimento, que era o dar visibilidade para os LGBTs, já aconteceu. Agora é o segundo momento, o de dar voz, para que as pessoas possam se expressar livremente. O preconceito vem da ignorância, e ambos precisam ser combatidos”, completa Deco.
Saiba mais sobre a Escola Jovem LGBT no site http://www.e-jovem.com/escola/
0 comentários :
Postar um comentário