![Diretor argentino Marco Berger /Domingos Peixoto](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilkTzy3Ae1I9Pq7VQ6CFvixkuJNVlz-r94P3Cifvo3WTlyflzwGGCK_33DVrfBMqwni6_C9d1d4OregGq96XLJxKwBj6LLfegmYjvhRfWcNIJUJoztiBiaJXnxORdOgLuNeO2bH1nyev4/s1600/imagem+gay1.jpg)
Vale mentir, vale forçar uma barra, vale olhar pela fresta da porta. Muitos artifícios são possíveis quando se trata de adolescentes lidando com o desejo sexual: até mesmo mentir para o professor de natação, só para poder passar a noite em sua casa e imaginar uma situação um pouquinho mais avançada do que simplesmente “olhar”. Como mostra o longa-metragem argentino “Ausente”, de Marco Berger, só não vale mesmo ter preconceito. A produção, que recebeu este ano o prêmio Teddy de melhor longa-metragem com temática LGBT no Festival de Berlim, tem sessão nesta quarta-feira no Estação Vivo Gávea, às 17h40m, na mostra Mundo Gay do Festival do Rio.
O projeto inicial de Berger era fazer um filme sobre a relação passional entre dois primos, mas a ideia foi substituída por um viés mais polêmico: o desejo entre o aluno e o mestre. Em “Ausente”, Martín (Javier de Pietro) é um rapaz de 16 anos que se sente atraído de maneira obsessiva pelo professor de educação física de sua escola, Sebastían (Carlos Echevarría).
— É um tema tabu, que as pessoas não gostam de abordar. Há muito desejo em torno dos adolescentes, não dá para negar isso. E a figura do professor é emblemática para esse desejo — diz o diretor, no Rio para prestigiar o festival.
Assista ao trailer de "Ausente":
O preconceito da sociedade está presente em “Ausente” nos olhares de vizinhos e porteiros ao verem Sebastían próximo a Martín. São cenas aparentemente com pouco apelo sexual, mas que ganham uma atmosfera de tensão graças a alguns recursos típicos de thrillers, como movimentos lentos de câmera e uma trilha sonora de mistério, utilizados pelo diretor.
— A primeira parte do filme serve para passar uma ideia de que há um risco maior do que realmente há. Na verdade, eles não fazem muito, mas tentei passar a impressão de que havia uma ousadia grande em tudo aquilo, quando na verdade não havia nada. Algumas reações dos vizinhos de Sebastían servem para tornar essa tensão ainda mais forte. E é, de certa forma, como uma parte do público reage a cenas assim — diz.
Berger já havia lidado com a temática LGBT em seu primeiro longa-metragem, a comédia “Plano B”, de 2009. Nele, um rapaz que leva um fora da namorada se passa por amigo do novo namorado da moça, só para tentar acabar com o relacionamento. Aí, como a matemática da amizade é a química dos amantes, não fica muito difícil imaginar que rumo toma a relação entre os novos “amigos”.
— Por incrível que pareça, lidar com a comédia de “Plano B” foi mais difícil do que lidar com o drama de “Ausente”. Na comédia, é necessário abordar um problema com leveza, mas sem perder o mote de que se trata de um assunto sério. Há um limite de preconceito que não pode ser ultrapassado nas piadas — explica Berger.
Na Argentina, “Ausente” já está em cartaz há três semanas, incentivado pelo boca a boca e pelas críticas positivas. O prêmio em Berlim também ajudou a abrir portas para Berger, mas de certa forma tem tachado o longa pela temática gay. O diretor, porém, prefere rejeitar o rótulo.
— O filme não é voltado apenas para um tipo de público. Ainda chegaremos ao momento em que não será necessário mais falar de nichos, onde tudo será unificado — afirma ele. — Mas, se você pensar bem, houve muitos avanços. As bandeiras do mundo gay só foram levantadas há dez, 20, 30 anos. Algumas etapas precisam ser rompidas, e o cinema pode ajudar a diminuir o preconceito.
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