Nos filmes de Gregg Araki, como "Geração maldita", "Splendor - Um amor em duas vidas" e "Mistérios da carne", as descobertas das possibilidades sexuais para os personagens guiam as tramas.
São, geralmente, histórias libertárias e divertidamente libertinas sobre pessoas confusas em busca de respostas. Em seu mais recente trabalho, "Kaboon", que estreia nesta sexta-feira (8), a combinação dessa temática com ficção científica é um tanto inusitada e continua focada no humor.
Isso acontece especialmente porque o diretor, e também roteirista, não se preocupa com a plausibilidade ou a veracidade. É um salto sem rede de proteção que funciona durante a maior parte do tempo exatamente por esse descompromisso com a realidade.
Seria claramente possível alguma leitura alegórica sobre a descoberta da sexualidade e suas possibilidades, mas um olhar mais sério sobre o filme vai exatamente no caminho oposto da proposta do diretor.
Smith (Thomas Dekker, de "A hora do pesadelo") acabou de entrar para a faculdade e sua melhor amiga é Stella (Haley Bennett, de "Marley & eu").
A trama ganha elementos de suspense e ficção científica quando ele volta de um show e vê uma ruiva passando mal no jardim. Quando tenta ajudá-la, desmaia e só acorda mais tarde com um pen drive, que, descobre-se, contém um filminho. A partir de então, "Kaboon" se torna surreal, beirando um David Lynch, mas sem se levar a sério.Confuso, ele passa noites com London (Juno Temple, de "Desejo e reparação") e um sujeito (Jason Olive) que conhece na praia de nudismo. E há também outro colega de quarto, Thor (Chris Zylka), que tem o mesmo nome do herói, mas é um surfista meio abobado.
Reside aí a força e a fragilidade do filme - é preciso embarcar na falta de lógica e na paródia de Araki. Não se deve esperar explicações. Nada faz muito sentido, embora haja um clímax juntando as pontas, e essa é a graça do filme.
O ambiente da faculdade norte-americana é visto por um prisma que dialoga com centenas de filmes do gênero - adolescentes confusos, picardias estudantis -, mas olhando-os pelo viés satírico.
As cores estouradas são uma espécie de marca registrada do diretor. Porém, quando numa cena aparecem imagens em preto e branco de "Um cão andaluz", de Luis Buñuel, Araki cria um contraste entre o passado e o presente, entre o real e o surreal, e não poderia recorrer a uma referência melhor para ilustrar essa contraposição.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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