Registrado como Vando, microeemprededor pretende se chamar Ana Kely.
Para advogado, conquista abre as portas para outros transexuais.
Um
juiz da 2ª Vara de Ceres, a 177 quilômetros de Goiânia, acolheu parecer
do Ministério Público (MP) e foi favorável a um pedido de mudança de
documentação civil de uma transexual.
Mesmo ainda não tendo se submetido à cirurgia de redefinição sexual,
segundo a decisão judicial, ficou comprovado que a transexual Ana Kely
"possui características femininas e porta-se como mulher em seu
cotidiano". A retificação do nome, segundo o magistrado, foi concedida
devido ao constrangimento sofrida pela moça, que está se submetendo a
tratamento psicológico para passar por procedimento cirúrgico para a
redefinição e faz tratamento com hormônio desde os 15 anos. A ação que
aprovou a mudança de nome durou aproximadamente quatro meses.
Segundo Ana Kely Carvalho dos Santos, a mudança do nome foi um passo
mais importante que a própria cirurgia, que está prevista para acontecer
no final de 2013, quando termina o tratamento psicológico. “Não estou
dando muita importância para a cirurgia. Eu já estou 95% completa. Não
fiz a mudança de sexo, mas já consegui o que era o mais importante”,
relata Ana Kely.
A transexual, que é microempreendedora, afirma já ter passado por vários
constrangimentos na rua e no trabalho pelo fato de ter registrado o
nome de homem e ter aparência de mulher. “O nome sempre me causou mais
constrangimento porque se passar por uma mulher não é fácil”, conta Ana
Kely.
Mudanças
Ana Kely, como é chamada por amigos e familiares desde os 15 anos, conta
que notou modificações em seu comportamento quando tinha apenas oito
anos: “Comecei a notar que meu comportamento era diferente. Eu notei que
gostava e sentia desejo por pessoas do mesmo sexo que eu, mas não
entendia. Eu pensava: ‘Mas eu gosto de meninos?’. Era estranho porque o
certo, segundo a sociedade de um modo geral acredita, seria gostar de
meninas”.
Com silicone, cabelos longos, voz mais fina após uma cirurgia nas cordas
vocais e no pomo de adão, realizada há aproximadamente um mês, Ana Kely
conta que a época de colegial, entre seus 15 e 18 anos, foi quando
sofreu mais homofobia. “Nessa época, eu comecei a deixar o cabelo
crescer, já usavas blusas femininas e maquiagem. Ouvia de tudo:
‘boiolinha’, ‘menininha’, ‘bichinha’. Sempre pedi à direção da escola
que mudasse meu nome na chamada, porque era estranho. Eles me chamavam
de Vando, mas, quando me olhava no espelho, não era isso que eu via”,
relata a transexual.
Família
Ana Kely tem mais duas irmãs e um irmão. Ela conta que em casa nunca
enfrentou problemas por causa de sua condição sexual: “Em casa foi
tranquilo, não teve choque, não foi preciso reuniões. Eu sempre fui mais
delicada, mais reservada e não gostava de roupas masculinas. Então,
tudo aconteceu naturalmente, sem muito exagero”.
Segundo o advogado da transexual, José Barreto Neto, a conquista de sua
cliente abre portas para que pessoas na mesma situação consigam mudar de
nome: “Ela sofria muito preconceito, sempre sofreu. O nome na
identidade já foi mudado e o sexo também será alterado no documento
assim que ela passar pela cirurgia”.
Até este sábado (14), Ana Kely ainda não havia dado entrada para os
novos documentos, mas afirmou que já está se preparando para realizar o
procedimento.
Decisão judicial aprova mudança de nome de transexual em Ceres, Goiás
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