A evolução dos personagens homossexuais nas novelas brasileiras
Por Lufe Steffen
Exibida às 21h na Rede Globo, a novela "Insensato Coração" vem fazendo um trabalho revolucionário, denunciando a homofobia social e defendendo os personagens gays da trama.
Eles não são poucos: cinco personagens homossexuais fazem parte da história, e mais um entra no ar em breve. Com esse time, os autores Gilberto Braga e Ricardo Linhares buscam abordar um assunto que ainda é tabu, e tentam destruir o preconceito reinante.
Desde o início da novela, os espectadores vêm assistindo às peripécias de Eduardo (Rodrigo Andrade), que começa a se envolver afetivamente com o professor Hugo (Marcos Damigo), além de conviver com Xicão (Wendel Bendelack) e Nelson (Edson Fieschi). Sem falar no alucinado Roni (Leonardo Miggiorin), o assistente e melhor amigo de Natalie (Deborah Secco).
Foto: TV Globo/ João Miguel Júnior

Leonardo Miggiorin como Roni, o assistente de Natalie (Deborah Secco) em "Insensato Coração"
No Passado
Foto: Reprodução
Buza Ferraz, Bete Mendes e Ziembinski no clássico "O Rebu", de 1975
No primeiro caso, pode ser incluída "O Rebu", novela exibida pela Globo em 1975 no horário das 22h. O milionário Conrad Mahler (Ziembinski) tinha um caso obscuro e meio marginal com o garotão Cauê (Buza Ferraz). Mahler termina matando Sílvia (Bete Mendes), por ciúmes do namoro dela com o rapaz.
Foto: TV Globo/Eduardo Nadar
Seu Peru (Orlando Drummond), veterano dos programas de humor
Nas novelas, os gays muitas vezes eram mordomos afetados. Os principais: Everaldo (Renato Pedrosa) em "Dancin' Days" (1978), Eugênio (Sérgio Mamberti) em "Vale Tudo" (1988) e Jacinto (Cláudio Curi) em "Roda de Fogo" (1986) - Jacinto tinha um caso repleto de lances sadomasoquistas com seu patrão, Mário Liberato (Cecil Thiré).
Foto: Reprodução
Eugênio (Sérgio Mamberti), o mordomo de Helena (Renata Sorrah) em "Vale Tudo"
Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Sílvio de Abreu
Gilberto acabou se especializando em criar personagens LGBTs. Praticamente em todas as suas obras existem representantes da comunidade. Mas além dos mordomos Everaldo e Eugênio, ele também escreveu gays mais discretos.
O primeiro deles foi Inácio (Dennis Carvalho), de "Brilhante" (1981). Atormentado pela repressão da mãe (Fernanda Montenegro), Inácio se envolveu com o personagem de João Paulo Adour, foi obrigado a se casar com Leonor (Renata Sorrah), mas terminou ao lado de um novo namorado (Buza Ferraz, novamente).
Em "Paraíso Tropical" (2007), Gilberto investiu em um casal gay bem-sucedido e discreto. Rodrigo (Carlos Casagrande) e Tiago (Sérgio Abreu) eram executivos que viviam juntos e não tinham nenhum problema de ordem sexual. E todo o círculo social e profissional do casal aceitava com bons olhos o romance.
Outros autores preocupados em abordar o tema: Sílvio de Abreu e Aguinaldo Silva. Aguinaldo criou Bernardinho (Thiago Mendonça), o simpático carnavalesco de "Duas Caras" (2007), que viveu abertamente suas paixões, e terminou ao lado de Carlão (Lugui Palhares).
Foto: TV Globo
Thiago Mendonça e Lugui Palhares em "Duas Caras"
Sílvio de Abreu foi pioneiro ao colocar, de forma aberta, um jovem casal gay em "A Próxima Vítima" (1995). Os hoje clássicos Sandrinho (André Gonçalves) e Jefferson (Lui Mendes). Apesar de um episódio negativo - o ator André Gonçalves foi agredido no banheiro de uma boate carioca, por causa do personagem -, os dois tiveram boa aceitação pública e terminaram juntos.
O mesmo não aconteceu com a próxima iniciativa de Sílvio no assunto. O casal Leila (Sílvia Pfeiffer) e Rafaela (Christiane Torloni), lésbicas bonitas, ricas e bem-sucedidas, foram rejeitadas nas pesquisas de opinião. E terminaram indo pelos ares na explosão do shopping que dava cenário à novela "Torre de Babel" (1998).
Beijo Lésbico
Foto: Divulgação/SBT
Luciana Vendramini e Giselle Tigre: o beijo pioneiro de "Amor & Revolução"
Todas essas personagens lésbicas eram retratadas de forma sutil, com muita feminilidade e modernidade - fugindo dos esterótipos de mulheres masculinizadas, que vigorava no passado. O resultado desembocou no primeiro beijo entre duas pessoas do mesmo sexo da teledramaturgia brasileira: Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre) em "Amor & Revolução", no ar no SBT.
Beijo Gay
Foto: TV Globo
Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro em "América": o quase-beijo mais famoso da TV
Mas, independente do tão aguardado beijo, o fato é que os gays na TV mudaram muito e hoje são mostrados com naturalidade, como pessoas comuns - e conquistando a confiança do público e de alguns personagens conservadores das tramas. Como foi o caso de Julinho: o cabeleireiro cativou a rígida Bruna (Giulia Gam), mãe de seu falecido namorado, Osmar (Gustavo Leão), e conseguiu mudar a mentalidade da sofrida personagem - a ponto de ela passar a considerar o rapaz como o filho que perdera.
Foto: Alex Carvalho/TV Globo
André Arteche, o Julinho de "Tititi"
Politicamente Correto x Incorreto
Foto: TV Globo/Divulgação
André Gonçalves como Áureo, o gay exuberante de "Morde & Assopra"
Já os programas de humor continuam na mesma linha do passado. O milenar "Zorra Total", no ar desde 1999, já teve o Alfredinho (Lúcio Mauro Filho), cujo comportamento envergonhava o pai (Jorge Dória), e hoje investe em Valéria, ex-Valdemar (Rodrigo Sant'anna), cujo bordão é "Ai, como eu tô bandida!". Uma volta ao passado?
Foto: TV Globo
Carlo (Pierre Baitelli), o "gay malvado" de "Cinquentinha" e "Lara com Z"
Foto: AgNews
Henri Castelli e João Baldasserini no remake de "O Astro"
Na dúvida, "Insensato Coração" continua em sua cruzada quixotesca para retratar os LGBTs de forma atual, moderna e livre de preconceitos, levando ao ar um texto corajoso e humanista - e esperando que a mensagem seja entendida pelo grande público.
Foto: TV Globo
Marcos Damigo e Rodrigo Andrade: Hugo e Eduardo, representantes gays em "Insensato Coração"
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