Eduardo e Mauro: Uma história de amor


“Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?”  

Eduardo não queria abrir os olhos, só de encarar sua família não queria levantar. Há dias andava na fossa e não tinha como explicar. Não era simples como contar que tinha nota baixa no boletim. Para muitos era fácil chegar na mesa do café e contar que estava com a cara inchada de chorar porque o carinha com quem estava saindo só queria sexo mas, não naquela casa, não na sua vida. Não tinha liberdade. Seus pais suportavam um filho gay o que era uma espécie de faça o que quiser da sua vida mas perto de nós seja “normal”.

Num outro canto da cidade Mauro tomava um conhaque e brindava bem alto fazendo questão que todos escutassem. Brindava a todos que sofreram por paixões e mesmo assim encontravam forças para sempre tentar. Medo nunca foi um empecilho para ele. Ninguém lhe dizia o que era certo ou errado. Desde cedo sabia o que queria e do que gostava e como gostava. E eram vários tipos de garotos e era tão boêmia a sua vida.

Eduardo e Mauro um dia se encontraram sem querer. O carinha do cursinho do Eduardo disse que ele precisava se divertir. O Bar do barulho, fazia jus ao nome. Festa estranha com gente esquisita por todos os lados e Eduardo não agüentava mais tanta bebida, a idéia de esquecer os problemas no velho copo tinha dado errado e tonto encostou-se no balcão do bar. E Mauro riu do garoto que mal conseguia andar e até se esqueceu dos boyzinhos que estava tentando impressionar contando histórias de suas viagens pelo mundo. Até hoje ele não sabe explicar o que o fez se encantar pelo garoto magrelo do balcão do bar. Talvez tenha sido por ser tão diferente daqueles carinhas que encontrava aos montes resolveu puxar assunto, mesmo que muitas vezes não tenha entendido sequer uma frase inteiro do que ele dizia. Eduardo só pensava em ir para casa pois já passavam das duas da manhã e conhecendo os pais que tinha a bebedeira não era nada comparado aos problemas que tinha arranjado.

Eduardo e Mauro trocaram telefone. Mauro telefonou e resolveram se encontrar. Eduardo estava tão envergonhado que aceitou o convite para tentar pedir desculpas e não lembrava muito daquela noite. Pensou até em desmarcar. Estava cansado de ter encontros e os caras sumirem no dia seguinte. Foi assim que iniciou sua vida sexual. Não tinha amigos gays e seus pais? Sobre os pais dele vocês já sabem. Então começou a entrar em salas de bate papo, marcava encontros e assim conheceu diversos tipos de cara, altos, magros, gordos, velhos, efeminados, casados. E quando chegava a marcar encontros eram sempre desastrosos. Às vezes achava que tinha achado o namorado ideal.Era tudo perfeito saiam, conversavam e até ficavam e no dia seguinte, no famoso dia seguinte o cara sumia sem deixar rastro. Essas coisas acabaram o fazendo desacreditar, foi assim com o carinha por quem tomou o porre. 3 Meses de papo, juras e mais juras, quatro encontros e mais juras, acabaram transando mas como contos de fada estão longe de existir.O cara só queria sexo e não sumiu como os outros avisou por SMS que não o ligasse mais. Se nada dava certo porque então arriscar? Por isso sugeriu uma lanchonete mas Mauro queria ver filme do Almodóvar.

Mauro não tinha conseguido parar de pensar no garoto bêbado e desde... nunca tinha se interessado assim por alguém e principalmente por quem não tinha chegado a trocar algumas palavras. Como diria Chico, ele o comia com olhos de comer fotografia. Sempre foi prático. Se queria um cara ia lá e conseguia, nunca se prendeu a rótulos, preconceitos ou qualquer coisa do tipo e foi assim quando um belo dia chegou em casa e disse aos pais que era gay. Atitude era seu forte e seus pais não hesitaram em o acolher. E aquele garoto, o atrapalhado e bêbado o dava um frio na barriga, uma vontade de aventurar-se, uma saudade daquela idade.

E então se encontraram no Parque da Cidade. Mauro de moto e Eduardo de bike . Conversaram, trocaram impressões e o dia estava tão lindo que Eduardo achou melhor não comentar que Mauro pintava o cabelo.

Eduardo e Mauro não eram nada parecidos. Um era de leão e outro tinha dezesseis. Um fazia Medicina, falava alemão, tinha morado no Canadá enquanto o outro estava no curso de inglês. Mauro gostava de Beatles, Caetano, U2 , Oscar Wilde e Folk lhe dava vontade de transar. Já Eduardo era viciado em novela, seriado e gostava de cozinhar no jantar. E as diferenças ironicamente os faziam se aproximar. Eram dois mundos diferentes que todo mundo dizia que um dia iam se chocar e era preciso ter cuidado com pedaços que por causa do impacto não se poderia nem colar.

E eles sabiam que tinham que ter cuidado não queriam se ferir. A faculdade tomava todo o tempo de Mauro enquanto o cursinho e a escola tiravam o sono de Eduardo. E nesse meio tempo iam teclando, conversando e esperando o quer que fosse não crescer.

“E, mesmo com tudo diferente veio mesmo, de repente uma vontade de se ver. E os dois se encontravam todo dia e a vontade crescia como tinha de ser.”

Eduardo e Mauro faziam várias coisas juntos como qualquer casal. E as coisas fluíam como nunca antes. Trocavam experiências diversas, eram como Bonnie & Clyde, Dolce & Gabbana , Ellen Degeneres & Portia de Rossi , Saint Laurent & Bergé nada podia abalar. Mauro se formou no mesmo ano em que Eduardo passou no vestibular. E dois comemoram, se empolgaram e para o pai de Eduardo exageram quando flagrou seu filho aos beijos no portão. As coisas ficaram um pouco complicadas e resolveram que o garoto deveria se tratar. O puseram na terapia, na igreja e só faltaram exorcizar. O pai o levava para faculdade e proibiu que os dois pudessem se encontrar. De vez em quando se viam na faculdade mas, os plantões de Mauro o impediram de ir lá. E eles sofriam pois essa situação não podia continuar .

Eduardo sabia que estava nas suas mãos ou enfrentava seus pais ou perderia o namorado já que Mauro estava cansado de esperar uma atitude. E oito meses se passaram e nada disso mudar. E numa noite chuvosa a gota d’gua chegou quando seu pai o chamou de “bichinha” no jantar. E ele passou a se questionar o porquê de ter agüentado tanto. Pais deveriam apoiar os filhos em todas as decisões ou na maioria delas, nunca feri-los mas muitos o fazem e essas cicatrizes nunca fecham. Saiu sem pegar nada, ligou para Mauro mas, não conseguia falar. Se sentia burro, idiota por ter se afastado de quem amava. O maior erro não tinha sido da sua família e sim dele que nunca havia tomado uma atitude porque tinha medo e receio do que os outros iriam pensar.

Quando amanheceu foi correndo ver o Mauro pois precisava se desculpar e foi nessa data 23 de setembro que as coisas começaram a desandar. Na mesa da sala viu coisas de alguém que ele não conseguiu assimilar. Subiu ao quarto foi tirar satisfações. Mauro acordou atordoado mas conseguia mentir com o olhar. E Eduardo respirou fundo e apenas perguntou porque? Por que tudo aquilo? Onde estava o amor? E o para sempre tinha acabado? Poderia ter sido com qualquer um mas porque com ela?

Mauro tentou explicar e chorou. E assumiu ter sido fraco, de ter recorrido a uma noite de sexo com Mônica sua colega de hospital. Queria experimentar e acabou acontecendo. Pediu perdão, pôs a culpa em Eduardo o ter deixado sozinho. Gritou que era homem e tinha instinto e que se ele o amava tinha que perdoar. Mas que perdão é esse? Que amor é esse que faz a carência o matar?

E doeu, doeu como nunca havia doído antes. Era como se tivessem aberto uma cratera em seu peito. Eduardo aprendeu a beber, deixou a  barba e barriga crescer, saiu de casa e começou a trabalhar. E deixou de acreditar mas, percebeu que não estava morto e precisava namorar. Saiu com alguns garotos da sua idade. Com alguns duraram semanas seguidas e não se apegava. Passou a ser adepto ao sexo casual. Ficava bêbado com freqüência, foi sua forma de seguir em frente.

As boates se tornaram a nova casa de Mauro por um tempo, depois foi perdendo a vontade e focando no trabalho. Quase ninguém o via fora do hospital. Alguns dizem que a noite quando os pacientes dormiam podia-se ouvi-lo chorando pelos corredores do hospital. Outros dizem que ele não dorme se não for com tranqüilizantes.


Numa manhã indo para casa após dar plantão, Mauro dirigia para casa sonolento quando algo aconteceu. Um outro carro havia batido no seu. O motorista desceu gritando e aqueles olhos eram impossíveis de não reconhecer.

Eduardo e Mauro se olharam e eram dois estranhos. Como podem duas pessoas que se amaram tanto e tiveram uma história se perderem assim? Em que parte do caminho haviam se perdido? Os dois se faziam a mesma pergunta. Em 2 segundos os dois começaram a gritar e Eduardo foi para cima de Mauro começando a lhe bater. Os gritos, murros não eram mais que mágoas e começaram a aparecer e antes que alguém pudesse interceder. O improvável tão provável dessa história realmente começou a aparecer.

Eduardo e Mauro se atracaram, se xingaram, se beijaram e me contaram que foi um folk folk folk sem parar. Estão morando juntos tem dois anos atras e estão pensando em se casar na Argentina. Batalharam, se esforçaram e seguraram a barra mais pesada que tiveram. Os pais de Eduardo dizem que não tem mais filho mas, o garoto que hoje é homem tem sua própria família e estão tentando adotar uma criança.

E eles brigam, se divertem, sentem, riem, sofrem, gritam, acordam de mau humor, sentem ciúmes, pedem carinho, fazem mimo, saem juntos, dormem agarradinhos, dividem as tarefas, ligam para saber se o outro está bem, dão flores, jantam juntos, fazem planos, são eternos namorados, compartilham sonhos, dão sentido a vida e sobretudo se amam muito.
“E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
que não existe razão?”  
Essa não foi a história do casal mais famoso do país mas, foi uma história de amor escondida como tantas outras por aí , como tantos casais que não podem mostrar o que sentem em público e que lutam para cada dia estarem mais próximos superando as dificuldades

Estes são Eduardo e Mauro mas, poderiam ser Hernanny e Cesar ,  Ilã e BrunoDiogo e Val , Denny e Alexandre , Hick e Fabio , Ricky Martin e Carlos GonzálezToni Reis e David Ian,  João Batista Júnior e Thiago Soliva , Wescley e Valdinisdei , Guilhermy e Yuri , Clara e Rafaela , Patricia e LuizaMiguel e Marcio , Heracton e Yon MunizMax e Ju , Rodrigo e Luciano , Thiago e Ricardo ,Renan e Natalie , Andre Xavier e Caroline ,  Karla e Dirce , Rafael e Gabriel, Fatima e Priscila , Renato Russo e Robert ScottEduardo e MonicaGuto e Ele e Eu e Você .
Que seja eterno enquanto dure e que dure enquanto haja amor!  E que todos os dias sejam dia dos namorados. Tricotei!




Fonte: Gay 1

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