ONGs criticaram 'limbo' judicial de argentina, que poderá ficar no país mas não tem direito a 'green card' nem visto de trabalho.
Uma lésbica de nacionalidade argentina ganhou na Justiça dos Estados Unidos o direito de permanecer no país por conta de seu casamento, o que grupos de direitos humanos afirmam trazer uma esperança para imigrantes na mesma situação.Mónica Alcota, de 36 anos, foi o primeiro caso de deportação que a Justiça americana decidiu abandonar desde uma revisão de procedimentos iniciada pelo Departamento do Interior americano, DHS.
A Justiça reconheceu os 'laços estreitos' de Mónica com os Estados Unidos por conta principalmente do seu casamento com Cristina Ojeda, cidadã americana, além de seu envolvimento com a comunidade onde vive, em Queens, Nova York, e a ausência de fatores adversos, como condenações.
Entretanto, apesar de não precisar mais temer a deportação, Mônica não poderá se candidatar ao visto de residência americano, o chamado 'green card'.
A argentina entrou nos Estados Unidos mais de dez anos atrás com um visto de turista e nunca mais deixou o país. Ela trabalhava como restauradora de móveis, mas nunca regularizou sua situação.
Mónica e Cristina, que se casaram em Connecticut em 2010, comemoraram a decisão, mas questionaram o fato de não poderem ter acesso aos mesmos direitos que um casal heterossexual entre um americano ou americana e uma pessoa estrangeira.
'Limbo'
Segundo a organização Stop the Deportations, uma entidade que faz campanha pelo fim das deportações de imigrantes ilegais dos EUA, o maior obstáculo para LGBTs estrangeiros casados com americanas ou americanos é o chamado Ato de Defesa do Casamento (Doma, na sigla em inglês).
Ainda que o casamento seja permitido em alguns Estados americanos, a lei proíbe o governo federal de reconhecer a união entre pessoas do mesmo sexo.
Além de Connecticut, o casamento igualitário é permitido em Iowa, Massachussetts, New Hampshire, Nova York, Vermont e o distrito de Washington, D.C. - mas a legislação permite que a união não seja reconhecida nos Estados onde não é celebrada.
Diversos casais estão lutando na Justiça americana para poder permanecer no país com a ajuda da ONG. Vários casos são listados no blog da organização (http://www.stopthedeportations.com/blog/) e compõem o grosso de uma campanha que utiliza a internet e as mídias sociais na causa.
A decisão de revisar os casos de deportação e encerrar uma parte deles é motivada pelo volume de processos em aberto: 300 mil.
Calcula-se que 12 milhões de pessoas estão sob o risco de serem deportadas dos Estados Unidos, incluindo muitas casadas com cidadãos americanos ou com filhos menores de idade que são cidadãos americanos.
Em junho, o governo americano aprovou um memorando que agiliza a deportação de imigrantes ilegais que tenham cometido no país, e facilita o encerramento do processo de deportação daqueles que respeitam a lei e estão integrados.
Mas para a especialista Erwin de León, que trabalha com imigração e políticas públicas, evitar a deportação LGBTs casadas com cidadãos americanos não resolve o problema.
'Pessoas como a Mónica ficam em um limbo, porque não serão deportadas mas tampouco terão o direito à residência permanente e a permissão para trabalhar, e continuarão tendo muitos obstáculos para levar a cabo suas vidas cotidianas', avaliou.
Arbitrariedade
De León, gay que nasceu nas Filipinas e está casada com um americano, defende a reformulação da Doma.
'A decisão de deportar ou não deportar fica nas mãos da arbitrariedade dos agentes de imigração e dois juízes, e da opinião que eles tenham sobre os casais do mesmo sexo', diz De León.
A agência de imigração americana afirmou, através de seu porta-voz, que está organizando cursos de formação em todos os Estados do país para evitar decisões judiciais arbitrárias.
'O governo tem o compromisso de priorizar os recursos e se concentrar em imigrantes indocumentados que tenham cometido crimes ou representem um risco para a segurança pública', afirmou o porta-voz, Gillian Christensen.
O novo memorando inclui uma lista de fatores que devem ser levados em conta para encerrar os casos de deportação. Entre estes estão 'laços estreitos' com a comunidade, a idade da pessoa, a existência de um parente doente ou qualquer incapacidade física e o casamento com um cidadão do país.
'A lista não faz referência expressa aos casamentos entre pessoas do mesmo sexo', lamenta De León.
'No começo, se falou em incluí-los. Ainda temos muito caminho para percorrer.'
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